Um bairro para novos ricos edificado sobre um "Santuário de pajés"
Os corretores já estão eufóricos nas esquinas com mapas, folders, ilustrações futuristas, fichas de inscrições e claro, as tabelas de preços. O novo bairro que será construído para uma suposta elite sobre os barracos de sete ou oito famílias de índios e sobre uma área de Cerrado ainda virgem, levará o nome de Noroeste, mas bem que poderia levar o nome da dona daquela primeira casa noturna que se instalou aqui no Planalto em 1960. A área fica mais ou menos entre o Albergue da Juventude, o Parque Burle Marx e o Canil. Uma área preciosa onde depois das chuvas explode uma diversidade imensa de flores, de cogumelos e de pequenos animais voadores. O preço dos apartamentos? Oito a nove mil reais o metro quadrado. O que significa que um cubículo de sessenta metros quadrados custará R$: 600,000,00 e que um de cem metros quadrados custará R$: 900,000,00. Dizem que boa parte dos prédios já está vendida. Quem acredita que conhece tudo sobre o Mercado Imobiliário no mundo precisa passar por Brasília e visitar as cadeias voluntárias em que vivemos, com suas janelinhas idiotas, com seus quartinhos de manicômios e com seus banheiros que nos obrigam a cagar em pé. Cortiços que através de suas paredes nada discretas, ouve-se tudo o que dizem no andar de baixo, no do lado e no de cima. A intimidade aqui, logo aqui que todo mundo tem contra si (ou deveria ter) um processo no judiciário, é uma verdadeira indecência. Onde estão os engenheiros, os sociólogos e os arquitetos que autorizam a construção desses pardieiros? Onde se meteram as vacas sagradas da urbanística? Pois bem, muitas dessas gaiolas sem ar, que chegam a fazer 39 graus ainda antes do meio dia, custam mais de que muitos apartamentos confortáveis nos arredores de Paris. Com o preço de um apartamentozinho de bosta aqui nesta cidade se compra três em qualquer outro estado e de muito melhor qualidade. Apesar de isso ser uma afronta à saúde e à inteligência de qualquer babaca ninguém dá um pio. Está todo mundo feliz por poder comprar o seu em trinta ou quarenta anos, mesmo que depois tenha que dar o rabo nas esquinas para poder pagar as prestações e o condomínio. Que tenha sido construído num “Santuário de Pajés” e sobre os ossos de algumas famílias de Pankararus, Tuxás, Korubos etc, isto é apenas um detalhe – dizem os “empreendedores”. E os compradores, esses trouxas/gatunos e gatunos/trouxas não estão nem aí, fazem o jogo de qualquer máfia que venha prometer-lhes que, do anoitecer para o amanhecer subirão ao pódio da classe média alta e, mais tarde, talvez, até ao ducanato. Com o contrato do imóvel sob o braço aproveitam para passar numa revendedora de automóveis e comprar o seu em setenta meses. Estão felizes. Isto é a felicidade para esse tipo de idiotas. Sacam o celular do bolso do paletó (celular que custou dois mil dólares, mas que será pago em até doze vezes) e contam as novidades para outros trouxas. Estão realmente felizes, inclusive porque na semana passada compraram também, em longas prestações mensais, todos os eletrodomésticos que precisavam.Sarava!
Ezio Flavio Bazzo
Ezio Flavio Bazzo
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