Dinâmica Não-linear dos Povos

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Sociedade M82 de Habilidades e Saberes Político-culturais, criada no Instituto Autonomia para: 1). apoiar a autodeterminação, a autonomia e a liberdades de povos em movimento, como refugiados, (i)migrantes, moradores de rua e nações sem Estado e povos nômades; 2). promover e fortalecer princípios e direitos humanitários universalizados voluntariamente pela reciprocidade entre os povos; 3). capacitar em tecnologias alternativas e emancipatórias.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Inaptidão para o ser humano


Motivos de consolo. - quando morre alguém, em geral,
necessitamos de motivos de consolo, não tanto para mitigar a
dor quanto para ter uma desculpa por nos sentirmo tão
facilmente consolados.

Nietzsche, em Humano, demasiado humano


Um dos maiores temores de toda autoridade é a soberania social. Isto é mais incômodo do que seus inimigos. Pois lhes é impossível a existência, senão no obscurecimento de milhões de cabeças. Fato simples de ser percebido. Basta relacionar o papel de sua autoridade à seu tom de voz. Como falam alto. A gritaria é sua espinha dorsal. Seu único poder é tagarelar alto, de modo que, consigam debilitar e empobrecer o espírito social da iniciativa e da ação. O mais vil disso tudo são aqueles que mendigam e se humilham para participarem do jogo e tráfico de influências entre as autoridades. São os buscadores do brilho das cortes. Os submissos aos 'poderosos' e influentes. A relação entre tais, senhores e escravos, se dá como instrumentos necessários uns dos outros. Relação instrumental cujo interesse maior é o de ofuscar os olhos do espectador pelo brilho de uma autruísmo geral. Eis a mais completa inaptidão para o ser humano. Infelismente foi o que presenciei no enterro de nosso querido amigo Hamdan, realizado no dia 20 de outubro de 2009.

Antes, apresento um breve prelúdio. Enquanto o sr. Hamdan vivia, o silêncio e a negligência imperavam. Por exemplo, não havia interprete nem assistente social para acompanhá-lo ao hospital, nós, da sociedade civil, que sempre brigávamos para que ele tivesse um atendimento descente e digno, mínimo que fosse em nosso abandonado SUS. AS AUTORIDADES, que deveriam ser responsáveis pelo seu bem estar mínimo, TODAS viviam lhe dizendo que a responsabilidade por todos os males em que ele estava exposto era unicamente dele. Lhe acossavam moralmente. Lhe retalhavam por estar expressando seu descontentamento do modo como estava sendo tratado e, pelo seu desejo de melhores condições de vida. No enterro, o discurso comum dessas autoridades era o da tentativa de se isentarem de qualquer responsabilidade. TODOS diziam: "Era esperado que ele morresse. A doença dele era crônica. Ele ainda não se alimentava direito. Somente bebia chá e café. Fumava muito". Então, o sr. Hamdan adquiriu sua doença crônica aqui no Brasil? NÃO! TODOS JÁ SABIAM! E aqueles oito meses em que ele morou na cidade de Mogi das Cruzes, antes de vir para Brasília, fazer seu protesto, o que aconteceu? Houve acompanhamento médico adequado? Havia garantias de tratamento? Havia perspectivas de melhoria na qualidade de sua vida? NÃO! O sr. Hamdan chegou a fugir de um asilo no qual fora à época confinado. Por esses motivos ele veio à Brasília!

Nós da sociedade civil, exercendo nossa soberania social, lhe acolhemos da melhor maneira que nos foi possível. Tudo o que queríamos era ver realizadas todas as suas reivindicações. E sabíamos que sua luta teria uma série de dificuldades. Estas tentávamos minimizar para que ele continuasse a reivindicar o que lhe era melhor e de direito. Fizemos tudo SEM A AJUDA DE QUALQUER AUTORIDADE! Estas, não satisfeitas em tornar mais dura ainda a vida do sr. Hamdan, todo o tempo, também vinham fazendo de tudo para manchar o fantástico trabalho voluntário da advogada Sandra Nascimento. TODAS as autoridade a odeiam. Por quê? Porque sua brava atitude combativa desnuda o mal-caratismo, a má-fé e a preguiça intitucional. Onde está o governo brasileiro que jamais sentou para conversar diretamente com os refugiados? A palavra deles não é importante? Só importa o que é dito entre gabinetes, por acessores de impressa dos órgão que deveriam ser responsáveis por eles? Quanta hipocisia ainda teremos que ver estampada no rosto desses funcionários e de seus bajuladores?

Pois bem, no enterro de nosso bravo amigo, as autoridades apareceram. Todos preocupados. Rapidamente levantaram dinheiro para o cerimonial. Dinheiro que, se disponível antes, teria até mesmo salvado sua vida, pois evitaria que o sr. Hamdan chegasse à situação que chegou. Todos exigindo respeito ao finado. E o respeito por ele enquanto vivo? De pronto ligaram para seus familiares dando-lhes os pêsames. Porque não ligaram antes para lhes darem boas notícias? Apesar do atraso da liberação do corpo, todas as autoridades pareciam estar empenhadas em dar dignidade ao sr Hamdan. Porém, tarde demais. Pareciam que, com essa prontidão institucional, estavam fazendo tudo aquilo como se estivessem ou escondendo algo, ou limpando rastros comprometedores, ou se aliviando. Até o laudo das razões de morte está correndo em sigilo. Ligações do governo dando instruções para os médicos do hospital HUB. Foi proibido à qualquer pessoa, salvo as autoridades. Claro, nós da sociedade civil que exercemos a soberania social, sabemos que, o falecimento de nosso amigo está intimamente relacionado à negligência dos primeiros oito meses do sr. Hamdan aqui no Brasil.

É válido lembrar que dos refugiados palestinos, aqui acolhidos, ele é o terceiro óbito, fruto da inaptidão para o ser humano destas autoridades responsáveis, como podemos constatar nas notícias veiculadas na mídida: o primeiro foi o bebê da refugiada Huda Albandar, que ainda, pelas complicações teve o útero amputado, o segundo óbito foi da refugiada Nuzha el Looh, uma senhora de 65 anos. Quantos óbitos mais teremos? A solidariedade apenas na morte é a maior falta de respeito que alguém pode ter para com uma pessoa. Que o sr. Hamdan agora descanse em paz. Valorosa pessoa que lutou até o fim por melhores condições de vida. Que sua luta não seja esquecida e continue por outros, para que todos os refugiados tenham a paz que merecem ainda em vida. É para tal que trabalhamos e lutamos.

NÃO HÁ AUTORIDADE SUFICIENTE PARA INTIMIDAR OU DESTRUIR A SOBERANIA SOCIAL.
Esta é irreversível.

Anthar Abubakar

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